Vejo um olhar das
instituições de caridade, ONG’s e grupos de pessoas que pensam a caridade tendo
como público ouvinte e beneficiários os ditos pobres desprovidos de dinheiro ou
tipificados em algum ato reprovável ou pouco louvável. Do tipo “vamos criar um
trabalho para as gestantes, vamos criar um trabalho para os drogados, vamos
fazer um mutirão para ajudar os moradores de rua, vamos ajudar aos
acompanhantes de doentes em hospitais que vem do interior, vamos milhares de
coisas” para pensar auxílio aos desamparados e desassistidos das políticas públicas
e do gozo dos direitos e garantias
constitucionais que a eles deveriam ser asseguradas como medida
prioritária e de mínimo existencial elevado ao nível da dignidade merecida.
Eu trago uma reflexão que
devemos pensar a caridade trazendo à baila trabalhos que tenham como quem
deveria sentar os assentos para ouvir uma palestra de conscientização aqueles
que ocupam cargos de poderes estratégicos e de forte influência e que
repercutem na sociedade dentro das atribuições que exercem, bem como pessoas de
poder aquisitivo elevado.
Sentemos numa cadeira
para ouvir palestrantes e membros de uma ONG as pessoas que promovem a violência
e a pobreza, que promove a exploração, pessoas que são negligentes, imprudentes
e imperitos em seus atos do cotidiano e em seu âmbito profissional.
Tenho visto trabalhos de
caridade que oferecem o enxoval para que mães pobres gestantes compareçam a um
trabalho de conscientização de controle de natalidade e cuidados com os filhos se forem a todos os encontros. Vemos
palestrantes para falar para viciados em drogas, vemos pessoas para fazer
trabalhos com detentos e muitos do gênero em pensar a oferta de serviços e levantar
recursos para ditos pobres.
Eu ouso lançar a proposta:
conquistemos um público que pense e reflitam sobre o que andam fazendo nos
postos de trabalhos que ocupam. Quero todos das classes mais ditas elitizadas
ouvindo palestras por estarem na condição de carente de fazer a “boa obra” e estender ao máximo de afinco e
responsabilidade na importância do dever que deveriam exercer.
Setores privilegiados
que trabalham somente terças, quintas e sextas para dar conta de uma demanda
enorme de trabalho, eles podem ter mais dias de folga que trabalhando. E por que
não o mesmo para muitos outros setores da sociedade? Carga horária de vinte
horas para alguns e sendo esses enquadrados em serviços essenciais que não podem
parar e outros que poderiam parar por ser prestadores de serviço que podemos
esperar. Quem não sobrevive sem um comércio aberto aos sábados e domingos? E
quem sobreviveria com hospitais fechados sábados e domingos? Réus que são
presos com tempo de prisão maior que a dosimetria de sua pena porque a sentença
saiu bem depois do quanto já se cumpriu.
Vamos solicitar melhores
condições de trabalho e melhores condições na oferta dos serviços essenciais,
lotar as salas dos locais de caridade com quem decide questões importantes, criam
diretrizes e normatiza o rumo de vidas afetadas por esses que muitos não incluem
ou conceituam como os mais carentes.
Quando se melhora tempo
de trabalho de empregada doméstica que passam oito horas ou mais como as que dormem
nas residências que trabalham e para as que vão para a casa só para dormir
porque na carga horário extensa e na grande maioria moram em locais periféricos
com muitas horas gastas com deslocamento saem cedo e chegam tarde com seus três
turnos comprometidos.
Como professora de escola
pública de periferia da cidade vi muitos até sem estudar porque a mãe saia antes
da escola abrir e chegavam depois dela fechada, e quantos que dependem de alguém
para levar uma criança que leva outra criança, uma atividade de casa que não
volta respondida porque a mãe não tem tempo de ensinar quando sabem ensinar
pois muitas não foram à escola, e quando crescem e não são os pais que seguem a
trajetória de seu desenvolvimento mais sim alguns trancados em suas residências,
outros na companhia de parentes se por sorte tiver alguém próximo ou por vizinhos
e/ou depois de certa idade abrem a porta e vão para a rua se socializarem. Se for
levantar a quantidade de crimes, só no fato de exploração de horas trabalhadas
se tem abandono de menor, vulnerabilidade para estupros e abusos sexuais,
aliciamento para o tráfico, prostituição e trabalho infantil e muitos outros. Então,
coloquemos patrões na lista dos carentes de receberem as mesmas medidas que se
tem para oferta de serviço dado aos ditos pobres.
Coloquemos o controle da
natalidade como ponto de pautar para setores outros e pessoas outras que não
palestras para gestantes ditas pobres carentes para doar enxoval e palavras
bonitas e eloquentes.
Pesquemos mais em outros
setores deixados de lado e ainda mais temidos pela sociedade porque quem há de
ousar em afrontar aos ditos intocáveis em seus santuários.
O efeito cascata para
melhorar de cima para baixo (apesar de não conseguir classificar em hierarquia
os seres humanos e os seus cargos, empregos ou profissionais). Melhorar os que
mais influenciam para deixar de olhar para os influenciados como o grande foco
para trabalharmos melhores condições sociais.
Vamos exigir o mesmo
ambiente climatizado dos fóruns, dos gabinetes, das salas de chefias, com ar condicionado, mármores e granitos,
salas amplas, água mineral, cafezinho, segurança, motorista, assessores, quem faça
uma ligação, quem faça sua agenda, computadores para cada servidor e que são
trocados antes mesmo de quebrarem, scanner,
papel que nunca falta, xerox, e outras ofertas de dignidade. Vamos levar as
mesmas condições para a educação que tem alunos confinados aos montes em número
acima da capacidade de se gerenciar excelente espaço de aprendizado, sem
recursos para competir com um universo de outros atrativos alienantes, sem riqueza
para tornar o ambiente um lugar que se deseja ir. Muitos milagres acontecem na
educação fomentado por seu corpo de profissionais, pais e alunos que colaboram
além das atribuições, suportam, resistem, lutam, despontam, decolam e alçam voos
magnânimos.
Dentre tantos setores e
pessoas que fazem o maior dos estragos digo que não vejamos o dito pobre como o
público que carece de trabalhos de voluntariado porque tem bastante pessoas em
seus assentos deixando um vazio muito grande seja da lacuna que se cria no não
fazer ou seja do espaço que se rouba em direitos e garantias legais (em quesito
de dignidade da pessoa humana) na vida de muitos cidadãos honestos,
trabalhadores, dignos de viverem suas vidas podendo gozar de melhores
condições.
Que cheguem aos olhos, ouvidos
e corações de todos aqueles que possam melhor agir em seu dia a dia em benefício
do público que se utiliza de seus préstimos.
Um forte abraço iluminado
desejo a todos cidadãos do mundo carentes e não carentes!
Aracaju, 24/04/2018.
Por Ângela Santos de
Oliveira ( um ser mergulhado nessa vastidão de pessoas)
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