Memórias de júbilos

Estava com meus 13 ou 14 anos quando passando cera na casa de joelhos fui interpelada por uma senhora desconhecida até então. 
Disse ela: Gostaria de falar com sua mãe. 
Eu em tom maior falei mais alto, como para encurtar passo e abreviar distância, gritei,  costume do interior sem soar má educação.
 _ Mãe uma mulher quer falar com a senhora. Nem  perguntava nome para ser tipo breve, menos curiosa, recado dado no que se pedia apenas. Menos pode ser mais.
_ Oi Marilene, que surpresa, como vai? Entre e fique a vontade. 
_ Oi Carmo, vim aqui pedir um favor a senhora. Minha mãe acabou de ficar viúva e não quer ir morar com nenhum de seus filhos em Aracaju e deseja ficar em sua casa ( Cedro de São João/Se). Relutamos, disse que não deseja incomodar a vida dos filhos, genros e noras. Então, eu e meus irmãos decidimos pagar alguém para fazer companhia a ela e ajudar nos afazeres domésticos. Ela têm mais de 80 anos e não ficaríamos bem sem deixar ela amparada. Como a senhora, Maria do Carmo, que conheço e admiro e que conhece  a comunidade de Cedro de São João fica mais fácil procurar alguém de confiança para o dia e para dormir também, porque a gente não mora mais a anos aqui e teremos que voltar logo, queria deixar isso resolvido. 
Minha mãe, Maria do Carmo, falou: pode deixar que irei procurar e agradeço a consideração. 
Eu em silêncio, de joelho continuei meu alisar de encerar o chão, processando.  
Minha mãe empenhou esforços em pensar pessoas de confiança e andou a cidade em alguns lares e umas casadas só podia pelo dia e outras mocinhas não queria perder o namoro.
Alguns dias depois a senhora Marilene volta em minha casa. 
E a resposta de minha mãe foi a não esperada com alegria de que não tinha essa pessoa para morrar com a senhora dia e noite.
Eu ali no espaço ouvindo a conversa me vi envolvida no caso e bateu o desejo de ajudar. 
Disse eu: mamãe a senhora tem 7 filhos que dorme com a senhora poderia deixar eu dormir lá e a senhora continua com a companhia de 6 filhos mesmo papai pescando e passando dias fora na beira do rio. Ela não tem ninguém, e eu dormindo pode ser mais fácil achar alguém para ficar só durante o dia. 
E foi assim, primeiro dia dormir foi uma tormenta de uma casa diferente quem acostumada estava em dormir no meio entre irmãs mais velhas, nem sabia que faria falta  a sensação de que era estar com elas e casa cheia, protegida em calor humano da família. Já nasci tendo 5 cinco irmãos mais que jóias raras todos eles, fartaram-me em suas companhias na rica infância que mais vale amor e companhia do que coisas. 
Nas artes e brincadeiras até a fome se engana e isso não era problema de buscar nas árvores frutíferas da região, pular quintal dos vizinhos, ir nas praças comer amêndoa e morta fome (uma vagem por nome científico não sei, por matar a fome o batismo foi de chamar de morta fome). 
Na casa da Senhora dormia em quarto separado, o meu reservava alguns objetos do falecido,  num quarto em frente aos chapéus, era tudo recente ainda. 
A  casa tinha porão, ponto alto, daí vinham morcegos voando na casa pela noite. Banheiro depois da porta sentido quintal. Luzes apagada.  Quem disse que ia lá no banheiro urinar. Esperei os primeiros raios de sol me espremendo toda. 
Passei uma noite quase toda em claro. 
Segundo dia não aguentando mais com xixi apertado levantei da cama e pensando numa solução,  vi uma bolsa de plástico para urinar. Achei, ali mesmo no quarto, ufa que alívio. Porém, bolsa furada. Ah Deus molhou o chão. O que dizer para a senhora. Pensei: vou dizer que choveu.
Dizer mentira muito difícil se fez e faz. Passar vergonha na infância me fez falar mais a verdade porque vergonha deve ser para roubar, matar, fazer fofoca...calúnia, injúria, difamação...
A senhora viúva Neufrides sábia, olhou para a terra lá fora viu ela seca e disse a terra do quintal está seca, pausa de ponto ele não disse mais nada. Não quis me envergonhar mais.
 Na mesma noite tratou de solucionar a lide,  providenciou comprando um urinol para ficar embaixo da minha cama, banheiro de suíte econômica. Que felicidade aquele presente.
Nas manhãs acordava o mais cedo possível antes dela para ela não me ver passando com o urinol na mão. Minha intimidade sempre buscava decência, discrição. 
Passar com ele era uma arte no equilíbrio para não derramar e na naturalidade é elegância não sentir vergonha nas coisas naturais, fisiológicas. 
Essa parte da história são das emoções de impacto inicial, adaptações. 
Era ingênua em muitas coisas e fenômenos. Medo de ver a alma do falecido José Teles, medo de escuro, abrir porta para ir urinar passando pelos morcegos que só depois na ciência soube que eles têm sensores auditivos para não se chocar, meu medo de um além do choque a mordida e carregada de crenças limitantes. 
Mas, pense na vida de muitas chaves foram os passos que foram dados. 
Não deixei de amar meus familiares pais e irmãos. Passei a ganhar uma familia por afinidade. A senhorinha de mais de 80 me ensinava muito e me amava muito e estabelecemos vínculos indissolúveis de amor fraternal até a eternidade. Ganhei meus mimos da senhora polida que não tinha vergonha de me amar e via os atos dela veementemente de modo a me inspirar e levar esse formato de manifestar amor em meus atos. 
Dona Neufrides, chamada de dona Neu, era mais uma avó para mim. Procurava saber como foi a noite de sono, se dormi bem, um bom dia, não me deixava sair sem me convidar para o café da manhã. Esse café não poupado em suas economias, nele me banhava nos valores mais nobres da vida, da alma, das etiquetas... e suas visões de mundo. 
Ganhei dos filhos delas o apreço e consideração de se abrilhantarem e me incentivaram a estudar. Já amava estudar e mais casamento com livros emprestados de vários ao mesmo tempo e outros ganhados e seus êxitos minha inspiração. Os filhos delas todos bem sucedidos na vida. 
O João disse:  não se preocupe que quando se formar se não tiver para onde ir morar em Aracaju eu terei um quarto em minha casa para ti. Isso deu um gigante motivacional de que meus sonhos não seriam interrompidos. 
Lá aprendi tantas coisas e vivi tantas outras maravilhosas de que me digozijo até hoje efeitos infinitos e emoções tantas que chorar nunca foi problema, até hoje chorar de saudade e emoções que desejam jorrar em minador que não fecho embaixo do solo, abro as portas do coração. 
De lá ganhei a viúva Neufrides, sua irmã madrinha Mari e seu esposo Lior, os filhos da Neu: Evilásio, Marden, Marilene, Ana, João e Francisco ( Chico)e seus netos. 
Aprendi a amar o próximo sem ser por vínculos biológicos, mas por laços espirituais. 
Meu muito obrigado a todos que me desafiaram a amar por portas estreitas de desafios que me levaram a mananciais gigantes logo adiante e se eternizam com os que já se encontram no plano espiritual. Em vida os dizia e em morte dou testemunho, com esse conto de parte de minha vida e verdade.
 Fermentar mais era possível, mas vou fazer valer seus fermemtos, caro leitor, porque a imaginação leva além. 
Por Ângela Santos de Oliveira a que pousou em outro ninho sem abrir mão do seu!!!

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